quinta-feira, outubro 28, 2010

21st century slaves - Portugal, e como nos deixamos levar que nem parvos

"Não gosto de ser sardinha, não gosto de me meter num comboio atolado de gente, para chegar a outro comboio atolado de gente, para finalmente chegar ao meu destino, que será o de trabalhar 8-12 horas por dia, por um mísero salário."

Talvez se reveja nesta frase, muitas pessoas decerto o farão. A questão que se põe nos dias que correm é mesmo: "Porque não nos revoltamos contra isto? Porque é que os Portugueses continuam a "tomar no rabo" como quem gosta, e não gemem? Como nos deixámos levar a este ponto?

Um caso prático do que é "isto": Anúncio para contratar ajudante de mecânico - 2a a Sábado das 9 às 18h, mais Domingo de manhã - Salário - 490€! (podia referir mais n casos deste tipo, exploração desumana de um indíviduo que certamente terá a sua família, os seus hobbies, que diabo, o seu tempo!)

Vamos por pontos:

1. As 24 horas de um Português hoje em dia podem parcelar-se da seguinte maneira: 10 horas de trabalho, 2/3 horas de transportes, (com sorte) 8 horas de sono, 1 hora para refeições - Sobram 2 horas para o português ocupar o seu tempo com, lazer, família, amigos, etc.

2 horas por dia, dá que pensar não é?

O salário médio português - 777 euros por mês. Conclusão, nós doamos a nossa vida (porque é isso do que se trata), por 800€. Se pensarmos que metade desse sálário paga a casa, 1/4 paga os transportes que usamos para ir para o trabalho, e o outro 1/4 gastamos em merdas inúteis que nos impingem todos os dias pela televisão adentro (e se há alguém a ler isto e a pensar "ah eu sou diferente, eu nao sou consumista", badamerda! Vai ver o teu armário, vai ver o teu chuveiro, vai ver o teu frigorífico e diz-me, jura-me de joelhos no chão que 2/3 das coisas que lá tens não são resultado de uma publicidade qualquer que tu viste na televisão, e que não foste compra as coisas ao megacentro comercial da tua zona...pensa bem).

Podemos resumir a vida de um português a isto então: Nascer - Aprender a trabalhar - Trabalhar - Trabalhar - Trabalhar - Reformar-se (isto se teve um salário durante a vida que lhe permita realmente reformar-se) - Morrer.

Conseguem ver a palavra "Viver" no meio?

Como acontece aos portugueses, acontecerá a muitos outros países, mas a diferença real é: Eles respeitam o indivíduo, não o pensam como um carneiro, que se sentirá feliz se conseguir comprar o mais recente iphone, ou o mais recente creme hidratante e reafirmante!

2. A escravidão foi abolida no fim do séc. XVIII, início séc. XIX certo? Nada mais errado. Pensem bem, os escravos eram era tirados dos seus sítios de origem, eram colocados em barcos em condiçoes desumanas sem espaço pessoal, eram atirados para agrupamentos de casas. Tudo isto, e depois davam-lhe comida.
Troquem as palavras escravo por trabalhado, barcos por transportes públicos, agrupamentos de casa por cidades dormitório, comida por dinheiro.

A escravatura não foi abolida, a percepção que nós tinhamos de escravatura é que foi alterada, nós somos escravos de alguém, neste caso não de um chefe de campo, mas do dinheiro.

Algures no tempo concluiu-se que era pouco eficiente explorar literalmente as pessoas, então fez-se o seguinte: "Vamos retirar de cena todas as necessidades básicas de cena, vamos dar comida, água, alojamento  e saúde ao indivíduo, mas vamos criar-lhe uma nova necessidade, o consumismo (pior ou melhor mascarado)."
É tão consumismo ir a um jogo de futebol como comprar um livro (por isso, novamente, os snobs que dizem que não são consumistas, porque são muito intelectuais para o fazerem, fodam-se! Ler não é uma necessidade básica, o conhecimento enciclopédico sobre artes, ciências, música, história, whatever, é um capricho nosso, da nossa mente, logo, ao cedermos a esse capricho, cedemos ao consumismo!). Para criar essa necessidade, surgiu a invenção mais perigosa do séc. XIX, a Publicidade. A publicidade funciona por criar standards que se ajustem aos subconjuntos de uma população, cria no fundo, standards. E esses standards são nos imposto por todo o lado, sejam cartazes publicitários, filmes, rádios, etc etc etc. Vivemos rodeados de standards inantigíveis, e que apenas pelo consumismo pensamos, erradamente, poder atingir.

(devo nesto momento fazer um parêntese - é da natureza humana querermos sempre mais, foi o que nos tornou o que somos agora, mas era agradável se ninguém se aproveitasse disso para enriquecer)

E depois construíram-se os megacentros comerciais, onde podíamos disfrutar da maior comodidade para satisfazermos ao nosso desejo de consumismo.

3. Com este sistema montado, podemos então levar as pessoas a aceitarem qualquer salário, a qualquer custo, porque sabemos que no fundo o que elas desejam é comprar, comprar, comprar!

Somos os escravos do séc. XXI, vivemos em casas empilhadas, vamos para o trabalho em transportes atolados de gente (novamente, razões económicas - tudo se deve mal ou bem a razões económicas), trabalhamos o dia todo por um valor que alguém achou correcto (e que na maioria das vezes não revela exactamente o esforço e dedicação que essa pessoa tem ao trabalho que faz), para depois voltarmos às nossas casas empilhadas, em transportes atolados. Isto tudo para ao fim de semana, irmos às compras.

E agora voltamos ao início, porque não nos revoltamos? Pois bem, é difícil a alguém a quem impingem este sistema logo ao nascimento, lutar contra ele em adulto, quando se apercebe da sua existência. Ser-se posto fora da sociedade não é bom para ninguém, somos seres sociais, por muito que queiramos não conseguimos viver sozinhos, reparem, ao contrários dos outros animais, as nossas fêmeas têm sérias dificuldades em dar à luz sozinhas, isso diz muito não é? A sociedade, a nossa maior força, é a nossa maior fraqueza.

Karma, that's all it is!